Voodoo: O homem pode ser transformado numa planta ou animal
O homem pode ser transformado numa planta ou animal. As pessoas
devem ser desprendidas dos bens materiais. Estes são dois mandamentos do
credo vodu, uma das religiões existenciais mais completa do mundo
segundo os etnólogos. Constituído de heranças africanas misturadas a
influencias católicas, o vodu sofreu transformações em contato com os
nativos haitianos, bem como na América do Norte, onde chegou há uns
duzentos anos com os primeiros escravos desembarcados nas Antilhas.
Entre 1912 a 1930, trabalhos dos etnólogos Price-Mars e J.G.
Dorsainvil, permitiram definir o vodu como a religião popular dos
haitianos, de caráter sincrético, cujos principais elementos provém da
crença das antigas tribos negro-africanas, principalmente da Daomé, as
quais se agregam as crenças católicas e algumas transformações
naturalistas dos aborígines americanos.
O essencial dessas religiões negras, que no princípio do sec. XVI se
misturaram ao cristianismo para dar origem ao vodu, pode ser resumido
assim :
- desprendimento do homem e das coisas
- atribuição de qualidades humanas ao animais, plantas e minerais
- possibilidade de transformação do homem vivo ou morto em animal ou planta
- possibilidade de união dos grupos humanos com os animais para utilização dos poderes desses ultimos
Essas religiões tradicionais da Africa caracterizavam-se ainda pelo
antropomorfismo, e pela noção de continuidade entre o natural e o
sobrenatural. Receberam diversas denominações, dentre as quais
fetichismo, adoração de pedaços de madeira, estátuas ou quaisquer
objetos; animismo, crença nas almas ou nos espíritos que animam a
natureza; politeísmo, crença em vários deuses; totemismo, crença nos
antepassados e na encarnação do clã; dinamismo, crença em que a energia
está nos elementos materiais; vitalismo, crença num princípio vital
diferente para a alma e para o organismo.
Filosofia e Panteão
O estudo científico do vodu, aliás, permite afirmar que nele estão
contidos todos os elementos básicos de uma religião: uma filosofia, um
panteão, um clero, um ritual, um simbolismo, uma moral ou expressão de
uma inquietude sobre o destino final do homem.
Deus é chamado "Papá" ou o Grande Meste. Sua
obra compreende o mundo superior e o inferior. Se trabalho de criação
situa-se na origem do tempo. Depois ele se retirou no seu império, que
alcança o sétimo céu, e de lá observa com certa indiferença o universo
que moldou. O centro geográfico dessse universo encontra-se na Guiné,
Africa. O criador situa os seres e as coisas em duas categorias: uma
delas se distribui sobre a Terra, e compreende o Reino Animal (homem
incluído), Vegetal e Mineral; a outra categoria povoa o espaço e a
profundidade dos mares. Os três reinos se encontram e se identificam com
os da primeira categoria, salvo que são invisíveis aos comuns dos
mortais. As duas categorias têm a mesma organização e se comunicam numa
perspectiva recíproca. Uma é o reflexo inverso da outra.
O Grande mestre também infundiu um dinamismo aos seres e as
coisas. esse dinamismo se difunde amplamente, e provém de uma grande
alma que dentre os seus atributos pode fragmentar-se infinitamente,
conservando em cada fragmento as qualidades de sua totalidade. essas
qualidades estão reforçadas ou atenuadas segundo o ser ou objeto que se
beneficie delas. Assim sendo, a Terra possui uma alma, a planta possui
uma alma , o mineral e o homem também.
Ao abandonar a Terra, por razões esquecidas no Haiti, mas
gravadas na tradição da Guiné, o Grande Mestre criou uma série de seres
imateriais aos quais delegou os seus poderes e cujo papel consiste em
servir de intermmediários entre ele e os humanos. Estes seres
imagiteriais chamam-se anjinhos vodu, mistérios e especialmente força (loá). De comum acordo com a alma, eles se apoderam do indivíduo desde a sua concepção, e dirigem o seu destino.
Podemos classificar os loás de diversas formas: pelo nome dos
espíritos, pelo elemento da natrureza que lhes serve de domínio; pelo
culto que lhes é dedicado; por sua origem africana ou haitiana.
- Distribuição dos espíritos segundo seu domínio: espíritos do ar, espíritos da água, espíritos do fogo, espíritos da terra.
- Distribuição dos espíritos de acordo com o culto: três cultos principais compõe o vodu haitiano. São eles: rada, congo e petro.
No Vodu existe um colégio sagrado a serviço dos deuses. Do lado masculino esse colégio compreende:
- Os Laplace
- Os Porta-Bandeiras
- Os Hougna
Do lado feminino :
- As Prta-Bandeiras
- As Hounsi
- As Mambo
A iniciação completa encerra três grandes princípios:
1) Laver-tête
O lavar da cabeça, que assinala o fim do estado "boçal", violento
e sem controle da possessão de um iniciado9 pelo espírito. Esta
cerimônia consiste em verter água benta sobre a cabeça do médium para
assegurar-lhe, entre outros privilégios, uma possessão equilibrada;
2) Kanso
A prova de fogo na qual o postulante deve ser capaz de segurar com as
mãos objetos incandescentes por um tempo determinado, sem demonstrar
sofrimento. resistir a essa prova significa que o indivíduo está pronto
para afrontar as vicissitudes da vida com coragem e firmeza;
3) L'Asson
Durante essa cerimônia o sacerdote oferece ao candidato um vaso cheio
de vértebras de serpentes, como símbolo de poder. Tal ritual remonta a
antigos cultos ofídicos da Africa.
Extraído de John Creek em seu livro "Devenir Chaman":
" O vodu é provavelmente a tradição xamânica que já fez correr
mais tinta e que é, também a menos conhecida. Do ponto de vista
histórico, é uma das tradições mais recentes, pese embora o fato de suas
raizes serem muito antigas. Quando pensamos em vodu, imaginamos
frequentemente o universo dos zumbis, das serpentes e da selva. Pensamos
no ritmo alucinante dos gongos, no rum que corre e nos feitiços com
ajuda das bonecas.
Mas de onde provém verdadeiramente o vodu?
Esta tradição viu a luz do dia pela primeira vez nas plantações
das ilhas do Haiti e no Lousiana, mais precisamente em Nova Orleans, por
entre os escravos que vinham da África. Para compreender sua origem é
necessário sabe que a maior parte dos escravos eram oriundos da Nigéria,
em particular das tribos Yorubas, que eram compostas por inúmeros clãs
que se batiam entre sí. os vencidos eram sumariamente vendidos a
escravagistas, a maior parte das vezes árabes que trabalhavam por conta
dos negreiros franceses.
Os escravos atravessavam o oceano em condições verdadeiramente
horríveis: mais de um terço dos homens acabava por morrer antes de
chegar a bom porto. Estas pessoas tinham as suas origens em culturas
primitivas, mas que eram muito ricas em rituais xamânicos. Quando
chegavam ao seu destino, davam graças a Deus por lhes ter permitido
sobreviver. Em contrapartida, tinham de sujeitar-se ao escravagismo por
parte do homem branco e abraçar sua religião sob pena de serem
espancados.
Foi então que nasceu o vodu, porque estes sobreviventes de uma
viagem no mar continuavam a honrar e a adorar seus deuses, embora
tivesse plena consciência de que o homem branco possui aliados que eram
ainda mais fortes que os deles, uma vez que tinham permitido o
escravagismo. Nesse momento, as pessoas que se recordavam de antigas
práticas africanas começaram a associar os deuses africanos ao panteão
católico dos santos, uma vez que o conceito de um único deus lhes
parecia um pouco ridículo, sendo que, para estes seres, a justa-posição
dos santos e dos deuses do culto Yoruba se estabeleceu de uma forma
bastante rápida.
Os escravos serviam de "pau de dois bicos": por um lado, aderiam à
nova religião do homem branco e, por outro, continuavam a honrar os
seus deuses, o que lhes era proibido.
Para dar um exemplo, Yemanjá, a deusa das águas, tornou-se a
outra face da Virgem Maria. Para Legba juntou-se ao Santo Antonio, e
assim sucessivamente. Este culto veio a conhecer váriuas formas
diferentes, sendo designado de "candomblé" no Brasil e "Santeria" em
Cuba, significando, literalmente: o culto dos santos.
A prática vodu sob diferentes formas está hoje em dia bastante
generalizada e, apesar da má reputação provocada por Hollywood e pelos
meios de comunicação, trata-se de uma verdadeira religião e não de uma
prática de magia negra.
Extraído de xama
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